Walter Longo, presidente do grupo Abril, durante palestra no Fórum
A Revolução do Novo: A Transformação do Mundo.
A Revolução do Novo: A Transformação do Mundo.
Foto: Antonio Milena/VEJA.com.
“A internet é o spoiler da curiosidade”, diz Walter Longo.
Presidente do Grupo Abril abriu a terceira edição do fórum
'A Revolução do Novo', hoje em São Paulo
Por Revista Exame.
O presidente do Grupo Abril, Walter Longo, abriu nesta
segunda-feira a terceira edição do fórum A Revolução do Novo. Promovido por
VEJA e EXAME, com apoio da Coca-Cola, o evento discute mudanças na economia,
política, tecnologia e sociedade, e o terceiro encontro da série teve por tema
“A transformação do mundo”.
“Vamos falar aqui sobre um tema que temos discutido, que é o
trilema digital. Quem assistiu à série Black Mirror viu nela críticas mordazes
à era digital e ao seu impacto na sociedade. Meu objetivo aqui não é criticar,
mas dizer que precisamos estar alertas sobre alguns desafios à nossa frente”,
disse Walter Longo. Segundo o executivo, o universo digital traz infinitas
possibilidades, mas desafios muito relevantes. Ele citou três grandes
tendências que estão preocupando cientistas sociais e tirando o sono de
empresários e executivos.
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“A primeira característica que deve chamar nossa atenção é a
exteligência”, disse. Hoje, explicou, o conhecimento não precisa mais ser
armazenado no cérebro, uma vez que basta um toque no smartphone para acessar um
mundo de informações. “O problema é que, se tudo o que eu tiver de guardar, eu
o fizer em outro lugar que não o meu cérebro, os neurônios não se conectam e
não fazem sinapses. Não há geração de insights”, afirmou Longo.
Como explica o executivo, é a partir da referência que se
gera repertório, que, por outro lado, gera ideias. “Ora, se eu não tenho nada
na minha cabeça, sem dúvida a qualidade do meu pensamento será reduzida”. Na
visão do presidente do Grupo Abril, “sem o combustível do conhecimento
embarcado não vamos tão longe”.
Para ele, a facilidade de obter conhecimento deve ser
celebrada: nunca foi tão fácil obter conhecimento e, além disso, não é mais
necessário armazená-lo no cérebro. Mas isso resulta na diminuição da
curiosidade, segundo o executivo.”Curiosidade está para o conhecimento como a
libido está para o sexo, como diz o economista Eduardo Gianetti”, citou Longo.
De acordo com Longo, estamos vendo uma polarização da
sociedade entre os curiosos e os descuriosos. “A internet está tornando os
espertos mais espertos e os estúpidos muito mais estúpidos”, afirmou o
executivo. Segundo ele, a curiosidade pode virar algo exclusivo das elites
cognitivas. “As elites não serão mais identificadas pelo dinheiro que possuem
ou pelo lugar social que ocupam, e sim por sua capacidade de pensar”, disse.
Walter Longo define a internet como o spoiler da curiosidade.
O segundo ponto preocupante desse trilema digital é o tribalismo.
Antes da era digital, a televisão era dividida entre os membros da família. “Eu
estava sempre frente a frente com escolhas que não eram minhas. Assistia a
jogos de futebol de times que eu não conhecia e passei a descobrir o prazer do
espetáculo esportivo”, afirmou. Alguém de esquerda, conta Walter, deparava com opiniões de direita no jornal, e
muitas vezes acabava revisando as convicções. “O contraditório nos obrigava a
revisitar teses para estar constantemente confirmando ou alterando nossas crenças,
hábitos e preferências”, explicou. Foi assim com a geração X. Mas hoje isso
está acabando.
As pessoas só leem o que querem, ouvem o que gostam, só
assistem ao que gostam, argumentou o executivo. “A polarização política que a
gente enxerga hoje no Brasil tem seu palco nas redes sociais, que só reforçam
essa tendência maniqueísta”, disse, assinalando que o uso crescente de
algoritmos tornou esse fenômeno mais agudo. “Se entro no Spotify e peço para
ouvir pagode, para o resto da vida sempre vão me sugerir pagode”, disse. Na
visão dele, estamos assistindo ao fim do contraditório e à perda da opinião. “E
isso traz como consequência pessoas cada vez mais sectárias”, alertou.
Violência e indiferença são os riscos nesse cenário.
A terceira característica que Longo apresentou dentro do
trilema digital é o compartilhamento. De acordo com ele, é preciso avaliar qual
é o impacto econômico dessa tendência de consumir menos e compartilhar mais.
“Menos carros particulares e mais carros compartilhados, menos hotéis e mais
casas compartilhadas, menos escritórios e mais espaços de coworking. Essa é uma
tendência sem volta, mas que traz o risco da desaceleração da espiral
econômica. Vamos ter aí na frente um desafio”, disse Longo. Devemos ir em busca
disso, na opinião dele, pois é o caminho do consumo consciente. “Novas gerações
parece que não querem consumir nada, mas querem aproveitar tudo”, diz Longo.
Tudo isso é bom, mas é preciso pensar no impacto disso para
a economia, propõe o executivo, “já que ninguém em sã consciência é a favor do
consumo irresponsável”. De acordo com Longo, devemos e precisamos ser otimistas
em relação ao futuro, e por isso ele chama todas as questões de trilema, já que
não as vê como problema. A questão que se coloca é enfrentar, analisar e resolver.
“Não adianta achar que está tudo em ordem”, disse.
O mundo sempre se sobressaltou quando surgiram problemas que
pareceriam insolúveis, lembrou o executivo. “Quando o problema surge, somos
impactados e não vemos saída. A solução só aparece depois. Se aparecesse antes,
não existiria o problema”, disse.
Texto e imagem reproduzidos do site: veja.abril.com.br
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