20º aniversário do Google
Publicado originalmente no site Brasil El País, 27 SET 2018
Google, o gigante tecnológico, comemora seu 20º aniversário
O buscador mais utilizado, que pertence à terceira empresa
mais importante do mundo, faz 3,5 bilhões de buscas por dia, à média de 0,19
segundo cada uma
Por Alberto López
“Vinte anos não são
nada”, cantava Carlos Gardel em seu tango Volver. Mas, em termos de tecnologia,
20 anos são um período suficientemente longo para que não recordemos com
exatidão como podíamos viver sem ela… O Google mudou nossas vidas, a ponto de
conhecer nossos hábitos e gostos de consumo, nos sugerir atividades de lazer e
nos facilitar a vida, embora para isso tenhamos nos tornado dependentes da
maldita (ou bendita) tecnologia.
Há duas décadas, bibliotecas e hemerotecas eram as fontes
mais confiáveis da informação, e as enciclopédias, as melhores aliadas do
conhecimento. Entretanto, de um tempo para cá, o acesso à Internet substituiu
esse esforço de aprender e conhecer pela comodidade de um clique. O acesso ao
conhecimento mundial em tempo real nos abriu ao mundo quase ao mesmo tempo em
que foi limitando nossa capacidade de esforço, atenção e até surpresa. Os
tradicionais boatos e rumores foram substituídos pelas fake news (notícias
falsas), e algo parece confiável se vimos na Internet.
O buscador mais famoso e utilizado do mundo celebra 20 anos
de existência nesta quinta-feira, 27 de setembro. Até seus criadores, que hoje
chamaríamos de freaks, desconheciam o alcance de sua paixão pela tecnologia e
da sua ideia revolucionária que criaria um gigante. Para comemorar esta data, o
Google fez um doodle em forma de vídeo que sintetiza sua essência: qualquer
coisa que procurar, e em qualquer idioma, você encontrará, já que o buscador de
sites mais famoso do mundo tem uma oferta de mais de 150 idiomas e está
presente em 190 países.
O 27 de setembro ficou como data oficial da criação do
Google, mas na verdade nem seus fundadores sabem ao certo o dia exato em que
ele veio à luz. A única certeza, pela quantidade de efemérides que a
multinacional tem para celebrar neste mês, é que setembro é o mês da companhia
norte-americana.
Seu início remonta a dois jovens universitários, Larry Page
e Sergey Brin, que ficaram amigos compartilhando um sonho empresarial em 1995,
quando estudavam informática e programação na Universidade de Stanford. Um ano
depois começaram a colaborar num buscador chamado BackRub, que funcionou nos
servidores da universidade até que finalmente ocupava muita largura de banda e
foi desativado.
Naqueles anos do final do século passado, havia outros
buscadores, como o AltaVista, que permitiam acessar milhões de sites indexados
em seus servidores. Melhorá-los com o uso de palavras-chaves era o objetivo de
Page e Brin. Até mesmo na história do nascimento do Google se conta que seus
criadores foram visitar os donos do AltaVista, que rejeitaram a ideia deles.
Atualmente, aqueles estudantes estão à frente de um gigante, enquanto que
aquele poderoso buscador de antigamente fechou há alguns anos.
Em 1997, Larry e Sergey decidiram mudar o nome do BackRub e
apostaram em Google, um jogo com a palavra googol, termo matemático que
descreve o número 1 seguido de 100 zeros.
Vendo um bom negócio naquela ideia de buscador, Andy
Bechtolsheim, um empresário de capitais de risco, apostou neles em agosto de
1998 e lhes ofereceu um cheque de 100.000 dólares, quando, na verdade, nem
Larry nem Sergey viam utilidade no Google inicialmente, e a empresa nem existia
ainda. O milionário também lhes perguntou como pensavam em fazer publicidade, e
eles responderam que não a fariam, que o boca-a-boca seria mais do que
suficiente.
Aquele investimento permitiu que Page e Brin deixassem os
alojamentos universitários como local de trabalho e se mudassem para uma
garagem em Menlo Park. Também naquele mês, Larry e Sergey contrataram Craig
Silverstein como seu primeiro funcionário.
A firma Google Inc. foi registrada em 4 de setembro de 1998,
mas essa data caiu no esquecimento, embora, para as repartições públicas, seja
o verdadeiro dia da fundação. Também caiu no esquecimento o 8 de setembro,
oficiosamente a data da criação até 2005, e o 27, ou seja, hoje, a data em que
o famoso buscador estreou. Na verdade, Ryan Germick, o homem que criou os
famosos doodles, (o primeiro, aliás, antes ainda do nascimento do Google, em 30
de agosto), admitiu em 2013: “Quando é o aniversário do Google? Tenho a
impressão de que a gente não sabe”.
A partir do final de setembro de 1998, o Google.com, ainda
em fase beta, tinha cerca de 10.000 buscas diárias, e a imprensa começava a
falar do novo buscador e do seu excelente funcionamento. Um ano depois, conseguiram
25 milhões de dólares de dois importantes investidores, e os modestos
escritórios ficaram pequenos, então se transferiram para o Googleplex, a atual
sede central do Google em Mountain View, Califórnia. Desde 2004 negocia ações
na Bolsa, onde se tornou a terceira multinacional mais importante, atrás da
Apple e da Amazon.
O que começou sendo um projeto universitário em apenas um
ano virou uma grande empresa com um crescimento exponencial. Afinal, a
companhia em que todo mundo gostaria de trabalhar – pelas imagens
compartilhadas das suas instalações e rotinas de trabalho e lazer – adotou em
2002, no seu quarto aniversário, o 27 de setembro como data oficial de
fundação, mas na verdade passa o mês inteiro comemorando.
O Google nunca deixou de inovar e se adaptar aos tempos e às
circunstâncias, então, salvo raros fracassos – que também houve, como Google+,
Google Glass, Buzz, Wave, Google Vídeo Player e Picasa –, tudo o que empreendeu
virou ouro: mapas (Maps), e-mails (Gmail), navegador (Chrome), sistema
operacional (Android), além da compra de outras bem-sucedidas empresas como o
YouTube.
No final de 2015, o Google sofreu uma reestruturação e criou
uma empresa controladora, chamada Alphabet, que passou a fiscalizar tanto o
gigante como suas filiais de saúde (Verily), inteligência artificial (Deep
Mind) e veículos autônomos (Waymo). Além disso, o Google também fabrica há
alguns anos aparelhos como o smartphones Pixel e os alto-falantes inteligentes
Home, e no ano passado apresentou aparelhos auditivos que traduzem idiomas em
tempo real utilizando seu serviço de conversão de idiomas.
Atualmente, a marca Google vale mais de 141 bilhões de
dólares (568,6 bilhões de reais), e seus serviços vão muito além de um simples
buscador da internet: mapas, plataformas de conteúdo audiovisual, análise de
dados, armazenamento de livros, publicidade… e até um assistente inteligente.
Algumas das curiosidades do Google: concentra 91% das buscas
na Internet em nível mundial, tem 80.000 funcionários, e até o Oxford English
Dictionary incluiu em 2006 a palavra google como um verbo, embora googlar ainda
não conste em nenhum dicionário brasileiro. Além disso, seis de seus produtos
superaram um bilhão de usuários (o buscador, o YouTube, o Gmail, o Maps e a Play
Store), e diariamente ele traduz mais de 150 bilhões de palavras em mais de 150
idiomas e nos cinco continentes.
Graças ao Google e a plataformas como Blogger e YouTube,
hoje em dia também aceitamos termos como blogueiros e youtubers, atividades que
antes não existiam e com a qual não pouca gente ganha a vida, e muito bem.
Mas nem tudo é maravilhoso num gigante implantado em nível
mundial. Sua posição dominante como buscador, em publicidade e nos sistemas
operacionais móveis lhe valeu críticas, denúncias e multas. Recentemente, a
Comissão Europeia impôs ao Google uma multa histórica de quase cinco bilhões de
euros (23,6 bilhões de reais) ao considerar que a multinacional violava o
direito à livre concorrência por pré-instalar seus aplicativos nos aparelhos
celulares com sistema operacional Android. Antes, em 2017, foi imposta outra
multa, de 2,5 bilhões de euros, por abusar da sua posição dominante nas buscas
on-line e favorecer o seu comparador de preços Google Shopping.
Com suas virtudes e defeitos, ninguém duvida que o Google,
além de ser um negócio, facilita nossa vida, poupando-nos de apuros que antes
enfrentávamos e nos permitindo economizar tempo, dinheiro e segurança em nossos
deslocamentos. Então, vida longa ao gigante, embora, como sempre se recomenda
com a tecnologia, melhor um uso moderado e responsável que um abuso que nos
isole da realidade.
Texto e imagem reproduzidos do site: brasil.elpais.com
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