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terça-feira, 2 de maio de 2023

Web Summit Rio 2023, no Riocentro

Texto publicado originalmente no site G1 GLOBO, em 1 de maio de 2023 

Web Summit Rio: veja destaques do maior evento de tecnologia e inovação do mundo

Pela primeira vez fora da Europa, o Web Summit vendeu os 17 mil ingressos disponíveis. Entre os 300 palestrantes convidados estão Ayo Tometi, do Black Lives Matter, Amrapali Gan, CEO do OnlyFans, e a chefe global do Airbnb, Catherine Powell.

Por Raoni Alves, g1 Rio

Com o intuito de reunir startups de tecnologia e potenciais investidores de todo o mundo, o Web Summit, o maior evento de tecnologia e inovação do mundo, chega ao Rio de Janeiro nesta segunda-feira (1) prometendo movimentar o setor no país.

O Web Summit Rio 2023 acontece no Riocentro, na Zona Oeste, até quinta (4), e contará com mais 100 horas de palestras, masterclasses e sessões de networking para os participantes.

O evento oferece um espaço de interação entre os profissionais do mercado, empreendedores, influenciadores, investidores e o público em geral.

A mesa de abertura, às 16h desta segunda-feira no palco principal, terá a presença de Ayo Tometi, co-fundadora do Black Lives Matter; David Vélez, CEO do Nubank; e do apresentador da TV Globo Luciano Huck.

Mais de 700 startups estarão presentes no Riocentro. Ao todo, são 300 palestrantes convidados. Confira alguns dos destaques:

Ayo Tometi, co-fundadora do Black Lives Matter;

Amrapali Gan, CEO do OnlyFans;

Catherine Powell, chefe global do Airbnb;

David Vélez, CEO do Nubank;

Roberto Marinho Neto, CEO da Globo Empreendimentos;

Jose Ulisses Correia e Silva, primeiro-ministro de Cabo Verde;

Txai Suruí, porta-voz internacional dos povos indígenas brasileiros;

Howard Wright, VP do Amazon Web Services;

Gabriel Braga, CEO do QuintoAndar;

Luiza Trajano, presidente do Magazine Luiza;

KondZilla, cineasta e fundador do canal KondZilla;

Luciano Huck, apresentador da TV Globo;

Bianca Andrade (Boca Rosa), influenciadora;

Cássia Kozyrkov, cientista chefe de decisões do Google;

Maju Coutinho, apresentadora da TV Globo;

Cecília Oliveira, co-fundadora do The Intercept Brasil;

Deco, ex-jogador de futebol e fundador da D20 Esportes;

Tarciana Medeiros, CEO do Banco do Brasil;

Milton Maluhy Filho, CEO do Itaú Unibanco.;

Amanda Ribas, lutadora do UFC;

Bruno Gagliasso, ator e BMV global;

João Barbosa, co-fundador do Gympass;

Pia Sundhage, treinadora da seleção brasileira de futebol feminino;

Fabrício Werdum, ex-campeão do UFC;

Natália Guitler, campeã mundial de Teqball;

Reinaldo Rabelo, CEO Mercado Bitcoin;

Emma Goldberg, repórter Futuro do Trabalho, do Jornal New York Times;

Bernardo Ivo Cruz, Secretário de Internacionalização do Governo de Portugal;

Pedro Dória, CEO Meio;

Daniel Moczydlower, CEO Embraer-X

Impacto global

A primeira edição do Web Summit aconteceu em 2009, em Dublin, na Irlanda, quando cerca de 400 pessoas participaram da conferência. Desde então, o evento de tecnologia e inovação só vem crescendo.

Após sete edições na Irlanda, em 2016, o Web Summit se transferiu para Lisboa, em Portugal. O sucesso foi tanto que em 2018 o governo português anunciou uma parceria com os organizadores para mais dez edições da conferência na capital portuguesa.

Em 2019, os números do encontro explodiram. A edição daquele ano reuniu mais de 70 mil pessoas de 150 países e consolidou o Web Summit como uma das maiores experiência de networking e conteúdo do planeta.

Com a pandemia da Covid, o evento de forma presencial foi suspenso. A edição de 2020 aconteceu de forma remota, mas não deixou de registrar números bastante expressivos.

Foram mais de 100 mil participantes em uma plataforma online. No ano seguinte, a conferência voltou a ter a opção presencial, mas não descartou a participação online.

Já a edição de 2022 voltou a quebrar recordes. Segundo os organizadores, mais de 2 mil startups, de cerca de 100 países, puderam apresentar suas ideias para 1,2 mil investidores. Os principais temas debatidos foram Inteligência Artificial (IA), o futuro do trabalho e o machine learning, que é o desenvolvimento de algoritmos para sistemas de computadores realizarem tarefas sem instruções explícitas.

R$ 1,2 bilhão no Rio em 6 anos

Pela primeira vez fora da Europa, o Web Summit Rio tem potencial de injetar cerca de R$ 1,2 bilhão na economia carioca nos próximos seis anos. Essa é a estimativa da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação do Rio de Janeiro (SMDEIS).

Após confirmar a realização da edição de 2023 na cidade, a Prefeitura do Rio pretende fechar uma parceria com os organizadores para que o evento tenha a cidade como sede até 2028.

Números do Web Summit Rio: (Estimativa SMDEIS):

R$ 1,2 bilhão de impacto econômico no município (6 anos);

17 mil ingressos vendidos no evento de 2023;

3 mil turistas estrangeiros (2023);

6 mil turistas brasileiros (2023);

o setor hoteleiro deve ter um impacto de R$ 6 milhões por dia (2023);

o setor da alimentação, com bares e restaurantes, deve receber um impacto direto de R$ 2,3 milhões por dia (2023);

os turistas brasileiros deverão movimentar a economia com R$ 595,2 milhões (6 anos);

e os turistas estrangeiros deverão proporcionar um impacto de R$ 425,0 milhões (6 anos);

Na opinião do prefeito Eduardo Paes (PSD), eventos como esse podem fazer do Rio "a capital de inovação e tecnologia do Brasil".

"É muito importante a vinda do Web Summit para o Rio, unindo o setor de tecnologia com o turismo. (...) As seis edições (2023-2028) do Web Summit Rio tem um potencial de atrair mais de 800 mil pessoas de público, movimentando a economia em R$ 1,2 bilhão. Nos seis anos previstos para o evento, há o potencial da Prefeitura arrecadar quase R$ 100 milhões com o ISS do Turismo no mês do evento de cada ano", disse o prefeito.

Texto reproduzido do site: g1 globo com

terça-feira, 10 de agosto de 2021

Agência Brasil explica: o que é a tecnologia 5G

Publicado em 30/03/2020 - Por Jonas Valente - Repórter da Agência Brasil - Brasília

Agência Brasil explica: o que é a tecnologia 5G

Novo padrão começa a ser adotado em alguns países este ano

A tecnologia 5G é um novo padrão para dispositivos móveis que trará mudanças tanto quantitativas quanto qualitativas na forma como as pessoas utilizam esses aparelhos, permitindo novas funcionalidades e um incremento significativo do número e da velocidade das conexões.

O padrão sucessor do 4G começa a ser adotado neste ano em alguns países do mundo. No Brasil, o governo vai realizar um leilão para selecionar as operadoras que ficarão responsáveis pela oferta do serviço de conectividade utilizando essa tecnologia e em que áreas deverão atuar.

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) abriu consulta pública para receber contribuições ao edital de licitação das faixas de frequência para a oferta de serviços móveis baseados em 5G. Ela ficará aberta a comentários até o dia 17 de abril.

A Agência Brasil explica o que é a tecnologia 5G e que tipo de mudanças ela pode trazer para usuários, instituições, empresas e para o setor de telecomunicações como um todo.

O que é a tecnologia 5g?

De acordo com a União Internacional de Telecomunicações, o 5G, ou quinta geração da telefonia móvel, é uma nova tecnologia de transporte de dados em redes envolvendo dispositivos móveis. Ele sucede gerações anteriores, mas autoridades e especialistas apontam que terá melhorias não apenas incrementais, mas qualitativas.

Enquanto a tecnologia 1G tinha velocidade de 2kbit /s e o 4G garantia tráfego de 1 Gbit /s, o 5G terá velocidade para baixar informações de até 100 1 Gbit /s. Enquanto a latência (diferença na resposta na transmissão de dados) era de 60-98 milissegundos no 4G, no 5G ela será reduzida para menos de 1 milissegundo.

Já a capacidade de conectar dispositivos poderá abranger até 1 milhão de aparelhos por quilômetro quadrado.

Quais são as características dessa tecnologia?

O 5G significa um avanço em relação aos padrões anteriores em uma série de aspectos:

- Permite mais dispositivos conectados, o que está se tornando necessário diante do crescimento da chamada “Internet das Coisas”, com o crescimento da comunicação máquina a máquina;

- Aumenta a velocidade de conexão, permitindo um consumo de serviços mais complexos com menos dificuldade, como a transferência de arquivos, comunicações em tempo real, o consumo de vídeos e áudios em tempo real (streaming) ou os jogos eletrônicos;

- Diminui a reposta da conexão (latência), melhorando e contribuindo para que os dispositivos móveis tenham uma conexão que permita aplicações em tempo real ou que demandam trocas de informação de forma rápida;

- Tem maior capacidade de banda, o que é importante diante do aumento de informações que são publicadas e circulam na internet, seja a criação de mais conteúdos ou a melhoria da qualidade, como no áudio ou na definição em vídeo;

De acordo com o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), o 5G é mais do que apenas uma melhoria das gerações anteriores. “As redes móveis 5G proporcionarão serviços avançados de banda larga móvel, com taxas de dados mais altas, menor latência e mais capacidade, que possibilitarão enorme potencial para novos serviços sem fio de valor agregado”, diz no documento sobre a estratégia brasileira para a tecnologia, colocado em consulta pública no ano passado.

Quais são os benefícios que o 5G pode trazer?

A União Internacional de Telecomunicações (UIT), em documento sobre o tema, argumenta que o 5G pode ajudar as pessoas a aproveitarem os benefícios de uma “economia digital avançada e intensiva em dados”, irá contribuir na implantação das chamadas “cidades inteligentes” e permitirá um incremento na experiência online pelas novas aplicações que suportará e pelas maiores velocidades.

“O 5G provê uma oportunidade para operadoras moverem além de ofertar serviços de conexão, desenvolvendo ricas soluções e serviços para consumidores e indústrias em um rol variado de serviços, e a um custo acessível”, ressalta a UIT no documento “Definindo o cenário para o 5G: oportunidades e desafios”, destaca a entidade.

O 5G poderá dar suporte a diversos tipos de aplicações benéficas. Elas vão desde os sistemas de pagamento até a viabilização de carros autônomos (que funcionam sem motoristas), bem como outras soluções de Internet das Coisas envolvendo sensores e monitoramento em fábricas ou sem serviços públicos (como acompanhamento de consumo de água ou de lâmpadas de postes).

Na avaliação do MCTIC, a tecnologia poderá contribuir também na produção. “O 5G será um componente chave para o aumento da troca desembaraçada de dados entre máquinas, instalações, humanos e robôs, o que permitirá o desenvolvimento de uma logística inteligente, produção conectada de sistemas cyber-físicos e de comunicação máquina a máquina. A combinação dessas e de outras tecnologias digitais no setor secundário possibilita o avanço industrial conhecido como ‘Indústria 4.0’”, assinala o órgão no documento de consulta pública sobre a estratégia para o 5G, realizada no ano passado.

Quais são as perspectivas para essa nova tecnologia?

De acordo com a associação mundial das empresas que atuam no segmento móvel, a GSMA, a expectativa é que até 2025 haja 1,2 bilhão de conexões 5G no mundo. Em alguns países ela já passou a ser adotada, como nos Estados Unidos, na Austrália, China, Finlândia, no Reino Unido, na Coreia do Sul e Áustria.

Segundo estudo da GSA, das operadoras investindo em 5G, 42% são da Europa, 23% são da Ásia, 11% são do Oriente Médio, 8% são da América Latina e Caribe, 7% são da América do Norte, 5% são da Oceania e 4% são da África.

Quando o 5G será implantado no Brasil?

Não há data certa. A Anatel precisa concluir a consulta pública e definir o edital, para que empresas interessadas em prestar o serviço possam se inscrever na disputa. A previsão já apresentada por autoridades indica a realização do leilão no fim de 2020. Após a realização do certame, as empresas terão as faixas de frequência para explorar serviços baseados na tecnologia, e caberá a elas fazer o lançamento desses serviços.

Edição: Graça Adjuto

Texto e imagem reproduzidos do site: agenciabrasil.ebc.com.br

segunda-feira, 3 de maio de 2021

5G > Entenda o que vem por aí e conheça as novidades

Publicação compartilhada do site F5 NEWS, em 3 de maio de 2021

Leilão do 5G: entenda o que vem por aí e conheça as novidades

Nova geração de internet móvel deve trazer mudanças para usuários Brasil e Mundo

Por Agência Brasil

Imagine uma manhã movimentada em uma avenida de trânsito rápido. Tentando entrar no fluxo, um motorista que está atrasado para o trabalho fica impaciente e acelera. Na faixa rápida, uma motorista recebe uma notificação pelo celular: um recado urgente da babá informa que seu filho está com febre.

Desatenta momentaneamente pela notificação, ela desvia o olhar e não vê a ação do motorista atrasado. Como estava um pouco acima do limite de velocidade da via (80 quilômetros por hora), a colisão parece inevitável. Uma batida muito comum no trânsito das grandes cidades, que gera prejuízos financeiros, estresse, congestionamento e, eventualmente, vítimas.

Isso, se a colisão tivesse acontecido.

O carro da mulher distraída, no entanto, era semiautônomo. Graças à tecnologia 5G, ao receber dados de tráfego de diversos sensores espalhados pelas vias, o veículo soube a hora exata de desacelerar. Com o uso de inteligência artificial e aprendizado de máquina, o computador de bordo do veículo conseguiu antecipar a tentativa frustrada de conversão do motorista atrasado e traçou possíveis cenários para evitar a colisão.

Sinais sonoros vindos do painel digital avisaram que havia a necessidade de desacelerar. Com a distração, o piloto automático assumiu momentaneamente o controle. Em milésimos de segundo, cerca de 40 sistemas foram consultados e enviaram as informações necessárias para o reposicionamento do veículo.

O computador de bordo tomou uma decisão: acendeu a seta e fez um leve desvio de faixa, juntamente com a desaceleração exata para que o carro se encaixasse no tráfego da faixa ao lado sem movimentos bruscos. O motorista atrasado sequer tomou ciência do momento.

Apenas nesta interação de poucos segundos, cerca de 20 gigabytes de dados foram trocados entre os sistemas. Fotos e sensores foram analisados, dados foram computados e transmitidos para outros veículos também conectados e para centrais de controle de tráfego urbano. A interação só foi possível graças ao 5G, à baixa latência na troca de informações (tempo de resposta entre o envio e recebimento de dados) e ao alto fluxo de dados.

Revolução tecnológica

Prevista para estar disponível nas 27 capitais brasileiras até julho de 2022, a internet 5G é vista, tanto pelo governo federal quanto por empresas de tecnologia e de telecomunicações, como uma revolução tecnológica abrangente. A implementação desta tecnologia no Brasil promete trazer diversas inovações que vão se refletir em maior produtividade, avanços na economia e na qualidade de serviços.

Em reta final de avaliação pelo Tribunal de Contas da União (TCU), o leilão das radiofrequências que serão utilizadas pela nova geração de internet no Brasil é um passo importante que está sendo tomado em paralelo a uma série de medidas e adaptações que já vêm sendo articuladas tanto pelo Ministério das Comunicações quanto por operadoras que viabilizarão a novidade.

A chegada da nova tecnologia suscita uma série de questões, muitas delas técnicas e complexas. A Agência Brasil conversou com especialistas da área para entender as novidades que o 5G vai trazer para a forma como a sociedade navega, produz e consome conteúdo.

Leilão de frequências

Importante para a implementação do 5G no Brasil, o leilão das frequências de operação da nova geração de internet móvel é a porta de chegada dessa tecnologia. Discutido em diversas audiências públicas ao longo de 60 dias em 2020, o leilão é considerado não arrecadatório, já que todas as verbas levantadas serão investidas em infraestrutura de comunicação e aprimoramento da conectividade em áreas ainda carentes.

Segundo o secretário de Telecomunicações do Ministério das Comunicações, Artur Coimbra, uma das exigências para o leilão é que haja investimentos não apenas para as redes mais avançadas de 5G, mas também para habilitar amplamente o 4G em pequenos municípios.

“Esta é a primeira vez que a Anatel [Agência Nacional de Telecomunicações] fará um leilão que não é arrecadatório, e sim voltado para investimentos. Todo valor acima do preço mínimo será revertido para as 2,3 mil localidades que ainda não possuem 4G habilitado, para as rodoviárias federais e povoados rurais”, afirmou o secretário, que é um dos responsáveis pela elaboração dos termos do pregão.

No leilão do 5G, quatro faixas de frequência serão ofertadas. Destas, duas serão inicialmente híbridas e servirão para distribuir o sinal 4G e o 5G em variações do espectro. Veja abaixo:

Faixa     Uso

700 MHz Inicialmente será usada para ampliação do sinal 4G. Eventualmente será a faixa utilizada por sensores inteligentes e carros conectados

2,3 GHz Alta capacidade para áreas densamente povoadas, também será usada para o 4G e será a frequência padrão de operação para dispositivos em geral

3,5 GHz Capaz de transmitir dados em altíssima velocidade, pode ser usada em paralelo com outras bandas e deve ser a faixa mais concorrida do leilão. É considerada parte do chamado 5G standalone

26 GHz  Faixa onde deve acontecer a transmissão de dados da economia em larga escala, como automação industrial e agrobusiness; capaz de grande velocidade e também é considerada parte do 5G standalone

5G - qual a diferença entre as gerações?

Apesar do ganho óbvio no quesito velocidade, a transição para o 5G não será percebida apenas pelas taxas de download ou upload de conteúdo, explica o presidente da Anatel, Leonardo Euler de Morais.

“O 5G vai remodelar a sociedade e os meios produtivos. Para muito além do que aconteceu quando saímos do 3G, teremos internet das coisas [IoT, da sigla em inglês], carros autônomos, cirurgias remotas. O 5G alavanca e possibilita várias outras tecnologias, como inteligência artificial, realidade aumentada - tornando cada vez os meios produtivos mais competitivos”, explicou.

Mas qual a diferença entre as gerações da internet móvel? Veja no infográfico:

Leilão do 5GLeilão do 5G

Baixa latência, alta velocidade

Morais explica que as novas possibilidades de interação podem transformar a educação, os serviços e a indústria brasileira, além de capacitar novos mercados de trabalho.

Como exemplos, cursos remotos de ensino poderão se beneficiar de aulas em realidade aumentada - experiência de interação em que objetos reais são aprimorados por meios digitais - para mostrar casos práticos da construção de uma estrutura arquitetônica, ou para o treino de um piloto de avião, por exemplo. Galerias de arte, máquinas complexas ou até mesmo o corpo humano podem ser explorados via realidade aumentada em sessões de aprendizado com centenas de outras pessoas compartilhando a experiência.

“A realidade virtual e a realidade aumentada ganham outra dimensão. Você pode ter o professor virtualmente onde estiver. É possível usar sensores táteis para manusear um órgão humano, no caso de um estudante de medicina. Um técnico de tomógrafo, por exemplo, poderia dar assistência na manutenção de uma máquina. São vários exemplos que mostram que a tecnologia 5G é disruptiva”, explicou.

Todos os cenários citados pelo presidente da Anatel só são possíveis graças às características inerentes à tecnologia do 5G, em especial a velocidade de transmissão e recepção de dados, chamada latência. Ela é a soma do tempo de envio de uma informação até a resposta do servidor ao qual a conexão está sendo feita. Em seguida, o envio da resposta do servidor ao cliente com as novas informações, e assim repetidamente.

Conflito de faixas de operação

Segundo o secretário de Telecomunicações, Artur Coimbra, cerca de 21 milhões de brasileiros utilizam antenas parabólicas para receber sinais de telecomunicação em casa - serviço que usa a mesma frequência de 3,5 GHz que será ofertada para exploração comercial no leilão do 5G.

“Há uma exigência descrita no edital que é específica para essa frequência [3,5 GHz]. A gente sabe que a TV por satélite no Brasil é muito popular e foi necessário pensar em soluções para isso - o que não sai barato. Felizmente, a parte técnica foi desenhada e está muito robusta”, disse Coimbra.

A empresa responsável por arrematar a frequência terá, entre outras responsabilidades, que operacionalizar a instalação de filtros de sinal e, em determinados casos, a troca da antena e do equipamento de recepção da banda atual para a chamada banda Ku. A mudança será feita por meio de um kit especial que será custeado pela operadora da frequência.

Faixa exclusiva

A arrematadora da faixa de 3,5 GHz também terá um compromisso de segurança nacional: viabilizar uma rede privativa de comunicação para o governo federal que tenha requisitos de segurança ampliados e que seja altamente confiável.

Segundo o edital do leilão, duas contrapartidas deverão ser executadas para criar a rede segura de troca de dados do governo: uma malha de conexão de fibra óptica entre todos os órgãos da União e uma rede móvel exclusiva para o uso público. Todas as telecomunicações do governo, além de serviços de segurança, defesa civil e emergência, poderão usufruir do serviço, que será implementado inicialmente no Distrito Federal.

Infraestrutura complexa

O secretário de Telecomunicações também listou os desafios de preparar a infraestrutura dos grandes centros urbanos para o recebimento da tecnologia 5G. “Teremos dois desafios logísticos com o 5G. O primeiro é a complexidade do licenciamento [urbanístico] para implantação de antenas. Vamos precisar ter cerca de dez vezes mais antenas do que com tecnologias anteriores”, argumentou.

As antenas de transmissão do 5G, no entanto, trazem uma vantagem. Por serem pequenas, explica Artur, poderão ter regras especiais de isenção de licenciamento urbano - o que agilizaria o processo de cobertura da tecnologia. O problema do licenciamento urbanístico é que ele acontece na esfera municipal, e há grande variação nas legislações sobre o tema.

“O segundo ponto é a expansão das redes de fibra óptica que alimentarão essas antenas. O próprio edital prevê o aumento da malha de cobertura da fibra óptica e a substituição da infraestrutura antiga, mas é um processo demorado”, argumentou Coimbra.

Semana Nacional das Comunicações

De hoje (3) a domingo (9), os veículos da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) publicam o Especial Conecta, com conteúdos sobre a Semana Nacional das Comunicações. O especial vai reunir reportagens sobre história das telecomunicações, 5G, Internet das Coisas, o impacto das novas tecnologias na educação e no agronegócio, entre outros temas.

Texto e imagem reproduzidos do site: f5news.com.br

domingo, 28 de fevereiro de 2021

Muito além do Facebook e do Twitter

Publicação compartilhada do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, em 26 de fevereiro de 2021

Muito além do Facebook e do Twitter

À margem da carnificina virtual dos gigantes da internet, novas redes miram grupos menores e mais participativos. Dagomir Marquezi para a nova edição da revista Oeste:

Redes sociais são definidas pela Enciclopédia Britânica como “uma comunidade on-line de indivíduos que trocam mensagens, repartem informações e, em alguns casos, colaboram em atividades conjuntas. Em seu melhor aspecto, uma rede social funciona como uma colmeia de criatividade, com usuários e desenvolvedores alimentando o desejo de cada um de ver e ser visto”. Parece uma definição bem inocente para os tempos de arranca-rabo que estamos vivendo. Mas foi para unir que elas surgiram.

A primeira rede social de verdade foi o SixDegrees, criado em 1997 e que três anos depois já tinha 3 milhões de usuários. Em 2003, veio a febre do MySpace. Em 2004, foi lançado o Orkut, que conquistou especialmente brasileiros e indianos.

Ainda em 2004 aconteceu o Facebook. Era originalmente uma rede destinada a universitários, mas se expandiu até alcançar o número atual de 2,2 bilhões de usuários. No início era tudo alegria. A gente localizava o colega de faculdade que não via fazia décadas, o primo que emigrou para o Canadá, e assim por diante. As pessoas se cumprimentavam no aniversário, curtiam as realizações dos amigos, postavam fotos de seus pets e filhos, davam dicas de séries e filmes.

Para muitos, talvez a maioria, as redes continuam tendo essa função inocente e construtiva. Mas houve o momento em que uma parte do ciberespaço foi consumida pela fúria. Alguém postou algo como “Eu apoio o candidato X”. E alguém respondeu: “Você é um fascista reacionário racista nojento e eu quero que você morra!”.

O debate político-ideológico era inevitável em redes gigantes e abertas como o Facebook e o Twitter, que incentiva o diálogo entre os usuários. Mas o conflito fugiu a qualquer controle. Pessoas cordatas, civilizadas na vida pessoal, revelaram um lado sinistro quando escondidas atrás de seus teclados e smartphones.

Ofensas começaram a voar todos os dias de um lado para o outro. Amigos brigaram para sempre. Famílias ficaram irremediavelmente divididas. Usuários passaram da simpatia política para a militância cega. E daí para o fanatismo feroz e descontrolado.

O jornalista britânico Ian Leslie tratou do assunto em seu recém-lançado livro Conflicted. Ele diz que precisamos evoluir para um estado de “desacordo produtivo”, em que as diferenças podem ser toleradas e até servir para a evolução das partes em conflito. E lembra o início das redes sociais, quando se teorizava que, “quanto mais pessoas forem capazes de se comunicar com outras, mais amigáveis e compreensivas elas se tornarão”.

Outro jornalista, James Marriott (do The Times), escreveu a resenha de Conflicted e considera Leslie otimista demais. “A natureza humana não funciona assim”, escreve Marriott. “Conectados em larga escala, humanos tendem para a fúria — por meio do linchamento por gangues, teorias da conspiração, polarização política, humilhação pública e posts brutais.”

Para Marriott, existe uma lógica cruel alimentando essa guerra. “Companhias como Twitter e Facebook entendem que o debate público pode ser monetizado e seguem a regra de uma simples equação: quanto mais furiosos ficamos, mais nos envolvemos. Quanto mais nos envolvemos, mais publicidade nós vemos. Quanto mais publicidade vemos, mais dinheiro jorra no Vale do Silício.”

Alguns usuários dedicam-se em tempo integral a debater política nas redes. Conheço pessoas que nunca publicaram um post que não fosse defendendo uma ideologia ou atacando algum político de que eles não gostavam. Saíram da crítica obsessiva para a ofensa. E daí para sugestões de assassinato ou coisas piores. Vale tudo pela “causa”.

Na teoria psicanalítica de Sigmund Freud, além do id (nosso “instinto animal”) e do ego (que dá uma forma socialmente aceitável aos nossos impulsos), existe o superego. A Enciclopédia Britânica define o superego como o elemento mental que “proporciona os padrões morais pelos quais o ego opera. As críticas, proibições e inibições do superego formam a consciência da pessoa”. Segundo Freud, o superego se forma durante os primeiros cinco anos da vida de uma pessoa. A gente diz “Odeio minha irmã!” e nossos pais ou responsáveis nos corrigem: “Falar isso é feio!”.

As redes sociais desenvolveram um mundo paralelo livre do superego. É como se as leis do mundo real não valessem na internet. A estrelinha de novelas declara ao mundo que quer raspar a cara do presidente da República no asfalto quente. O ato não tem nenhuma consequência — além de provavelmente aumentar seu prestígio no local de trabalho.

E então um colunista publica uma matéria sugerindo que o presidente deveria morrer. E esse universo mental primitivo em que o id está à solta em nome de uma causa transborda das redes digitais para o mundo “real”. Do outro lado, alguns defensores do presidente reagem com a mesma linguagem furiosa e ameaçadora. E o clima fica irrespirável como em uma briga de torcidas organizadas.

As maiores redes sociais às vezes parecem a 1ª Grande Guerra — exércitos em trincheiras trocando tiros sem que nenhum dos lados ganhe ou perca território. Mas o conflito atingiu um novo patamar. Não são apenas os usuários de redes sociais que brigam entre si. As próprias plataformas entraram na guerra.

Twitter, Facebook e Google estão hoje dominados por essa ordem de “combater extremistas” — desde que sejam de direita. Chegaram a ponto de destruir uma rede rival, o Parler. Taparam os olhos para o que faziam organizações violentas e totalitárias como Black Lives Matter e Antifa. Mas não admitiram a invasão do Capitólio pelos simpatizantes do ex-presidente Donald Trump. Tiraram o Parler do ar e do catálogo de aplicativos do Google e da Apple Store. Agiram como um Estado policial.

Agora o Parler voltou à internet de maneira ainda precária. Sob nova direção, sem aplicativo e com a promessa de permanecer “apartidário”. Duas outras redes surgiram para o mesmo público não esquerdista — o CCore (ou Conservative Core) e o Gab.

São redes no modelo do Twitter — posts pequenos, pouco destaque aos comentários. Apesar do nome ideologicamente limitador, o CCore é a rede mais arejada entre as três. O Parler é especialmente árido — um bombardeio constante de posts ideológicos e focados no noticiário de Washington (ou Brasília). O que tende a expelir naturalmente quem não pensa exclusivamente em política.

Existe saída para essa situação? Abandonar as redes é uma. Conheço muita gente que tentou. Mas ninguém que eu saiba conseguiu se afastar da turbulência por muito tempo. Estamos num processo de grandes transformações. As grandes redes atuais mais cedo ou mais tarde farão parte do passado, como o Orkut e o MySpace.

O mercado sabe disso e lança novas gerações de aplicativos. São tantos que fica difícil acompanhar todas as novidades. As novas redes tendem a ser mais específicas, evitando o generalismo do Facebook — e seus inevitáveis conflitos. Além de se arriscar em novas possibilidades formais. Uma das novidades mais badaladas é o ClubHouse, uma rede social ainda muito restrita que funciona unicamente por voz.

Novas redes miram grupos menores e mais participativos. O TuitchTV e o Caffeine transmitem jogos ao vivo para gamers. O Vero é um Instagram mais inteligente. Medium, Wattpad, Substack e LiveJournal são voltados para quem gosta de escrever. O MeWe mistura elementos de diversas redes e prende pela funcionalidade.

O DeviantArt é voltado para usuários ligados às artes gráficas. O Tribe reúne empresas e consumidores. O Quora e o TheDots oferecem a troca de informações entre profissionais. O Hello junta pessoas de acordo com seus interesses. O GoodReads, pelos livros que estão lendo. O ReverbNation e o SoundCloud são redes para músicos.

Eu estou em quase todas as redes. Quero vender meus livros, divulgar meu trabalho, repartir as fotos que tiro, prospectar possibilidades profissionais, encontrar pessoas com as quais compartilho interesses — e eventualmente dar minha opinião sobre os acontecimentos. Mas não acredito em mudanças profundas motivadas por número de curtidas ou visualizações.

Em minha opinião, existem formas mais efetivas para conseguir essas mudanças — por meio de legisladores, órgãos de governo, agências oficiais, organizações de fiscalização, fundações, canais de contatos das empresas etc. Dá mais trabalho que digitar um post raivoso. Mas tem maior chance de funcionar.

Eu não brigo na internet. Se surge na rede alguém que ofende meus princípios, eu bloqueio. Não preciso dessa pessoa, ela não precisa de mim. Nosso conflito é inútil. O mundo é vasto e cheio de possibilidades. Vou procurar minha turma.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi.blogspot.com

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

O mundo a um clique, por Adriana Vichi


 

Publicado originalmente no site SESC SP, em 31 de janeiro de 2021

O mundo a um clique

Por Adriana Vichi

CRIAÇÃO DA INTERNET PROVOCOU MUDANÇAS NO TRABALHO, NO APRENDIZADO, NA FRUIÇÃO CULTURAL E NAS FORMAS DE INTERAÇÃO SOCIAL

"Criar meu web site, fazer minha home page, com quantos gigabytes se faz uma jangada e um barco que veleje”, questionou Gilberto Gil na canção Pela Internet (1996), um ano depois da chegada deste invento que mudaria nosso dia a dia. Ao popularizar em letra a descoberta, o músico baiano vislumbrou apenas uma fresta dessa criação que em 25 anos revolucionou a forma como aprendemos, trabalhamos, nos relacionamos e vivenciamos expressões culturais, como a música, o cinema e as artes cênicas. Na pandemia, então, os mares da World Wide Web, criada pelo físico britânico Tim Berners-Lee alguns anos antes do surgimento da internet, tiveram importância maximizada, dada a restrição social, que nos levou a adaptações e reflexões.

Mas nem sempre foi assim... Lembra quando a sociedade ainda era totalmente analógica? Talvez você não tenha nascido na época, ou era muito jovem, mas, antes da chegada e popularização da internet, era comum passar horas numa videolocadora para escolher e alugar um filme em VHS ou DVD. Jovens ficavam a postos para apertar o botão REC do aparelho de som e gravar numa fita K7 o hit da rádio. Aguardava-se, em suspense, o telefonema de um amigo ou o interurbano da avó. A consulta a pesadas enciclopédias na biblioteca era a ferramenta auxiliar para escrever a tarefa escolar em letra cursiva num caderno (leia Nada será como antes).

Um dos pioneiros da internet no país, diretor presidente do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto br (NIC.br) e conselheiro do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), o engenheiro Demi Getschko recorda o primeiro momento da nova tecnologia. “Era mais difícil usar uma máquina de escrever do que, hoje, manusear um celular. Por isso, uma coisa é clara: quanto mais tecnológicas as ferramentas, menos complexo é seu uso. No começo da internet, era preciso dominar inglês. Hoje isso é furado. Tanto que todos usam celular e ninguém tem dificuldade alguma. Outra diferença do começo é que hoje estamos o tempo todo conectados”, disse em entrevista à Revista E nº 268, de janeiro de 2019.

Para entender a dimensão do alcance da internet, basta comparar a quantidade de internautas nestes últimos 25 anos. No final de 1995, o número de brasileiros conectados era de 120 mil, segundo dados publicados no site NIC.br — vale destacar que a conexão era feita pela linha telefônica, que ficava ocupada quando alguém estava na internet. Mais de duas décadas depois, precisamente em 2019, o número de usuários chegou a 134 milhões, segundo a última pesquisa TIC Domicílios, do Comitê Gestor da Internet. A pesquisa ainda apontou que 79% da população está conectada, mesmo que muitas pessoas desconheçam que aplicativos de mensagens, por exemplo, representam uma conexão à internet.

Adaptação necessária

Se estamos cada vez mais conectados, a pandemia no ano de 2020 reforçou esse laço com o mundo virtual. Fosse no trabalho, na educação formal ou não formal, no lazer e até mesmo nas práticas esportivas e atividades físicas. Nas escolas e universidades, estudantes tiveram que se adaptar ao ritmo e cadência das aulas virtuais, da mesma forma que professores precisaram se ajustar a essa realidade.

“Desenvolver uma aula online requer a revisão de metodologias e até dos modos de apresentar o conteúdo caso haja materiais de apoio. E mesmo que seja uma aula baseada no falar do professor, esse professor não pode falar por muito tempo seguido. Ele não aguenta e os alunos muito menos. Então, o professor tem que adotar novas metodologias”, explicou a professora Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida, especialista em ensino online e vice-coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação: Currículo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), na Revista E nº 288, de outubro de 2020.

No campo das artes, criadores das áreas de cinema, música e teatro, entre outras, buscaram formas de se apresentar e chegar ao público. Cerradas as portas de salas de cinema e teatro, as transmissões ao vivo em plataformas digitais, as famosas lives, dominaram a cena com espetáculos e apresentações musicais. Experimentos que devolveram a artistas, diretores, produtores, técnicos e público a possibilidade de se reencontrarem mesmo na pandemia. Festivais nacionais e internacionais da sétima arte também passaram a ser disponibilizados para um público ainda maior, cruzando fronteiras geográficas por meio de serviços de streaming on demand.

Conexão consciente

Dessa forma, a cada ano estamos mais imersos na web. Por isso, é preciso que a sociedade esteja informada e consciente de como navegar nesses “mares” que mais da metade da população mundial desbrava, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU). Também é crucial que a outra metade do mundo possa se conectar e participar dessas águas. “Lembrando que uma coisa é a rede e outra coisa é o uso que se faz dela por meio de plataformas como Google, Facebook etc.”, afirma a pesquisadora em Comunicação Digital Pollyana Ferrari, professora do Departamento de Comunicação da PUC-SP.

“Ao longo desses 25 anos de internet tivemos ganhos incríveis, saltos que mudaram a forma de fazer comunicação. Claro que uma live, transmitida numa plataforma digital, por exemplo, não é o mesmo que uma apresentação presencial, mas a rede nunca veio para suprir o presencial, nem foi essa a proposta original, que é conectar pessoas”, acrescenta.

Nos primeiros anos da internet no Brasil, Ferrari recorda do trabalho como jornalista de tecnologia no jornal O Estado de S.Paulo e da reação dos leitores com as notícias. “A gente não pode negar que os conceitos de participação mudaram graças à rede. Ela possibilitou novas práticas de circulação do público, que ganhou voz e conteúdo, e isso se tornou um marco”, analisa a professora, que ainda pontua como destaques a internet no celular, a plataforma de vídeos YouTube e, mais recentemente, o impacto da rede durante a pandemia.

Que outros saltos podemos esperar daqui para a frente? Quantos anos mais a internet terá? Segundo a pesquisadora Pollyana Ferrari, enquanto existirmos, diversas plataformas digitais podem se extinguir, como aconteceu com o Orkut, mas a internet seguirá ativa nos conectando e avançando em alcance. Por isso, um desafio cabe a seus usuários: manterem-se vigilantes desse “organismo vivo” que é a web. Seja na regulamentação sobre plataformas e direitos sobre o uso de dados; na educação midiática para evitar manipulações e fake news; e no conteúdo que produzimos e compartilhamos diariamente nas plataformas. “A rede não é uma entidade. Ela é o que fazemos dela e por isso vai reverberar o que a sociedade faz no mundo presencial”, complementa.

Nada será como antes

HÁBITOS E OBJETOS QUE SE TORNARAM OBSOLETOS COM A REVOLUÇÃO DA WEB

Quem nasceu com a internet costuma achar trivial pesquisar um tema ou localizar o contato de uma pessoa por meio de um buscador. Mas até a rede chegar a milhões de lares brasileiros, enciclopédias e listas telefônicas eram itens indispensáveis nesta tarefa. Da mesma forma, um telefone residencial era imprescindível para se comunicar e realizar as primeiras conexões da internet discada. Não havia WhatsApp, Instagram, Facebook ou qualquer outro aplicativo para a comunicação entre pessoas de diferentes partes do mundo, nem serviços de streaming de vídeo e de música para assistir a um filme ou ouvir um disco na hora que bem desejasse. O que mais mudou de lá para cá? Conheça (ou relembre) alguns hábitos e objetos que faziam parte da rotina analógica e que se tornaram obsoletos com a revolução provocada pela internet.

Fulano tá na linha

Imagine um mundo onde ninguém sabe onde você está agora. Sem acesso à internet, o telefone era um aparelho residencial e de uso comunitário. Em casa, quem o atendia perguntava, seguido do “alô”: Quer falar com quem? Podiam ser ligações locais de amigos, namorados ou interurbanos de algum parente. Agora, se você estivesse na rua e quisesse avisar em casa que chegaria atrasado, o orelhão era a alternativa da vez. A regra era sempre ter algumas fichas telefônicas no bolso.

 Conhecimento em volumes

Pesadas, de capa dura e em letras miúdas, as enciclopédias eram itens de luxo para ter em casa. Acervo de conhecimento geral, cujos assuntos eram divididos em ordem alfabética, elas continham tudo — ou o que se acreditava ser tudo — que você pudesse imaginar e precisar. E, quando um conceito ou personagem estava acompanhado por imagens, aquilo era um bônus para o leitor. Quem não tinha enciclopédias em casa costumava consultar volumes disponíveis nas bibliotecas e fazer fotocópias do assunto investigado para uma tarefa da escola ou da universidade.

Rebobine, por favor!

Alugar uma fita VHS era um hábito comum, principalmente no final de semana. Infelizmente, era concorrida a disputa pelas poucas fitas dos filmes que acabavam de sair das salas de cinema para as prateleiras. Quando se conseguia, o título era assistido até mais de uma vez. Na videolocadora, os funcionários costumavam dar dicas de novidades e do acervo aos frequentadores, que, muitas vezes, ganhavam descontos se alugassem muitos títulos de uma só vez. Ah… Só não podia esquecer de rebobinar e devolver a VHS para não levar multa.

Manda um cartão-postal

Era comum a troca de correspondências entre amigos e familiares. Notícias de como estavam, o que faziam, se estavam planejando as férias do final de ano, toda sorte de informação era registrada no papel em letra cursiva ou por uma máquina de escrever. Depois, selada e enviada. No caso de viagens, havia quem preferisse mandar cartões-postais de praias, museus, praças ou o que o remetente julgasse interessante para ilustrar a mensagem que levaria dias ou semanas até chegar ao destinatário.

Lado A / Lado B

Grudados no rádio, adolescentes e jovens frequentemente queriam gravar suas músicas favoritas num mixtape. A seleção podia ser para tocar numa festa, para dar de presente ou simplesmente ouvir repetidas vezes sozinho. Para isso, podia-se ficar o dia inteiro colado no aparelho de som, com o dedo a postos no botão REC a fim de gravar sua canção favorita. A decepção vinha quando entrava uma propaganda no meio da música ou quando a fita K7 enroscava e a mixtape ia parar no lixo.

Sesc digital em números

O Sesc possui as seguintes contas ativas no estado: @sescsp + suas 41 unidades e 9 contas de programas institucionais (Mesa Brasil, Selo e Edições Sesc, Esporte SescSP, Sesc ao vivo, ETA – Espaço de Tecnologias e Artes, CM – Centro de Música, CPT – Centro de Pesquisa Teatral e SescTV). São:

48 páginas no Facebook

51 canais no Instagram

e 40 perfis no Twitter que somam 5.520.512 seguidores espontâneos, uma vez que o Sesc não impulsiona (patrocina) suas ações nas redes sociais

Desde o lançamento, em abril de 2020, a plataforma Sesc Digital já teve 1.324.378 visualizações

Apenas o canal @sescsp no YouTube teve 8.796.686 visualizações de lives no último ano

Dados coletados entre os dias 18 e 20 de janeiro de 2020

Lugar de troca e conhecimento

PORTAL SESCSP CELEBRA 25 ANOS COMO UM ESPAÇO DE RELACIONAMENTO, EXPERIMENTAÇÕES E CONTEÚDO

Alinhado às novidades tecnológicas e seu impacto sobre a sociedade, o Sesc São Paulo lança seu site no ano seguinte à chegada da internet no Brasil. Não um espaço comercial, mas um lugar que traduzisse no meio virtual a experiência das atividades presenciais realizadas pela instituição, e que expandisse seu relacionamento com o público. Em 1996, o Portal SescSP (www.sescsp.org.br) nasce como uma unidade virtual e começa a experimentar as potencialidades da web.

De lá para cá, o Portal amplia sua atuação junto ao público: compra de ingressos, agendamento de consultas do serviço de Odontologia, programação de cursos, espetáculos, palestras, entre outras ações e atividades. Até que, em 2020, é lançada a plataforma Sesc Digital (www.sescsp.org.br/sescdigital), projeto que visa transpor as ações do Sesc ao ambiente e à linguagem digitais. Além disso, a plataforma busca expandir o alcance das suas práticas de ação e difusão cultural, fortalecendo o compromisso com um processo educativo participativo, continuado e inclusivo.

“O público encontra no Sesc Digital um conjunto de programações inéditas, planejadas especificamente para o meio online, como cursos livres no formato de ensino a distância (EAD), séries de podcasts e documentários — apenas para citar alguns exemplos —, e pode explorar ainda um universo de mais de 10 mil produções que representam os 74 anos de atuação sociocultural da instituição. São registros de shows, espetáculos, oficinas, cursos, palestras e exposições, além de fragmentos de memórias de ações e atividades relacionadas às grandes áreas de atuação do Sesc: educação, saúde, cultura, lazer e assistência social”, explica Fernando Amodeo Tuacek, gerente do Sesc Digital. “Ao recuperarmos, digitalizarmos e disponibilizarmos todos esses acervos de forma livre e gratuita, esperamos contribuir para a reverberação de princípios que norteiam o Sesc, como o estímulo à autonomia pessoal e a valorização do contato com expressões e modos diversos de pensar, agir e sentir”, complementa.

CAIU NA REDE

1996

Em setembro de 1996, é lançado o primeiro site do Sesc São Paulo, hospedado na Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Era o tempo da internet discada e lenta. A Revista E é parcialmente publicada na internet neste ano e levada integralmente ao ambiente online em 1997.

1999

Lugar de pesquisa, estudo, criação, experimentação: este seria o espaço do Sesc São Paulo na internet. O site ganha um banco de dados onde todas as unidades cadastram sua programação (sistema que existe até hoje), com todas as categorias. A parceria com artistas e pesquisadores da internet viabilizou a criação de vários sites com versões digitais da programação. Nesse ano, o Portal reunia sites 100% interativos. Estava sendo criada ali a desejada concepção da “unidade virtual” do Sesc São Paulo. Exposições temáticas foram adaptadas para a internet. Criaram-se os sites “Mitos que vêm da mata”, “Procure sua turma”, “Por quê, Pra quê?”, “Paisagem 0”, “Brincadeira de Papel”, entre outros totalmente interativos.

2002

É criado o site dedicado ao pensador Edgar Morin e seguem as experimentações de linguagens para a criação de sites a partir de atividades da programação.

2005

O Portal SescSP passa a investir no desenvolvimento de funções de prestação de serviço ao público. Iniciam os trabalhos para venda online de ingresso, inscrições nos cursos e agendamento de consulta para tratamento odontológico, entre outros serviços. Ou seja, um espaço de comunicação e relacionamento com o público. Os sites agora tinham o sentido de assegurar a presença dos projetos institucionais na internet: Dia do Desafio, Circuito Sesc de Artes, Mirada — Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas, Circos — Festival Internacional de Circo e Bienal Naïfs do Brasil, entre outros.

2007 a 2009

Com a chegada do Orkut, foram criadas espontaneamente pelos públicos frequentadores das unidades do Sesc São Paulo e dos demais regionais no Brasil mais de 1.000 comunidades nesta rede social. Ficou evidente a importância de o Sesc ter seus próprios canais nas redes sociais. Em 2007, o Sesc abre o perfil @sescsp no Twitter, que em cinco anos já tinha um milhão de seguidores. E em 2008 abre o perfil @sescsp no Facebook. No ano seguinte, cada unidade abriu seu próprio perfil para se relacionar com seus públicos de forma propositiva. As timelines do Sesc São Paulo são ocupadas com posts sobre todos os temas abordados em sua programação.

2013

É publicada a versão do Portal que está no ar até agora. Cada unidade passou a ter um editor web para atualizar suas home pages no Portal e timelines no Twitter, Facebook e Instagram.

2016

Cria-se a área do Sesc Digital, com equipes dedicadas a consolidar os aprendizados acumulados ao longo dos 20 anos de atuação digital do Sesc São Paulo e a ampliar o alcance de sua presença online.

2020

É lançada a plataforma Sesc Digital, que é o repositório do conteúdo do Sesc São Paulo e tem um acervo de vídeos, textos e áudios, além de cursos livres e gratuitos de Educação a Distância (EAD).

Texto e imagens reproduzidos do site: sescsp.org.br

domingo, 27 de setembro de 2020

E chegamos à era dos ciborgues


Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, em 26 de setembro de 2020

E chegamos à era dos ciborgues

O século 20 foi o século da física. Agora estamos no século do cérebro. Artigo de Dagomir Marquezi para a Oeste:

Escrevo estas linhas sem usar as mãos. Estou ditando o que meu pensamento cria para um microfone. O que eu digo sai digitado direto na página em branco.

Há 5 mil anos os homens dependem das mãos para escrever — no barro, na pedra, no papiro, no papel, no computador. Cinco milênios depois, basta você ter um programa gratuito como o Google Docs e as mãos no teclado não são mais necessárias. Diga o que quer escrever. As palavras surgirão na tela, como se digitadas por um fantasma.

Imagine um escritor cheio de ideias com um problema neurológico que o impeça de usar as mãos. Agora ele está livre para criar sua obra, com a ajuda de um simples microfone. É um feito notável. Mas o mais impressionante está por acontecer. Você aceitaria implantar um conector em seu cérebro?

A resposta imediata a uma pergunta dessas costuma ser: “Nunca!”. Mas eletrodos já estão sendo implantados no interior de crânios humanos desde 1997. É um procedimento conhecido como DBS (deep brain stimulation, ou estímulo cerebral profundo). Esses pequenos aparelhos são instalados no cérebro de pessoas com epilepsia, por exemplo. Quando o ataque epilético está para acontecer, o conector contra-ataca com uma descarga que o anula. O paciente nem fica sabendo. Procedimentos DBS já são usados para suavizar ou anular a doença de Parkinson, transtornos obsessivo-compulsivos (TOC), dores crônicas e depressão profunda.

Três startups americanas estão buscando algo bem mais complexo: a conexão completa entre humanos e suas máquinas por meio de uma BCI (ou interface cérebro-computador). Com uma conexão dessas, eu não precisaria nem ditar este texto para um microfone. Eu o escreveria só com meu pensamento.

Uma das empresas que seguem essa trilha é a Neuralink, parte do complexo de empresas de alta tecnologia do superempresário Elon Musk. A Neuralink desenvolveu o “Link”, um eletrodo do tamanho de uma moeda com 2 centímetros de diâmetro. Ele é implantado em contato direto com o cérebro.

Abrir um buraco na cabeça pode parecer assustador, mas o procedimento teoricamente não precisa nem de anestesia geral. Deverá ser realizado por cirurgiões-robôs desenhados especialmente para essa tarefa. Instalado o Link, minúsculos fios no aparelho entrarão em contato com o cérebro e captarão seus impulsos nervosos. Imediatamente o implante os transformará em sinais digitais e os transmitirá (via Bluetooth) para um computador, tablet ou celular. E os limites entre um cérebro e um computador deixarão de existir. Seremos oficialmente ciborgues.

O Neuralink usa um princípio neurológico chamado “ação potencial”. Digamos que você está com sede. Seu cérebro processa sua necessidade e envia impulsos para uma série de músculos e nervos de seus braços e mãos. Com esses impulsos, você segura um copo, enche-o de água e o leva até a boca.

Se você quer andar, outros impulsos fazem com que seus músculos se contraiam e alternem os movimentos das pernas de forma que você se desloque. E se você não tem as pernas? E se elas não conseguem se movimentar? O impulso de seu cérebro continua sendo gerado — ainda que sem resultado prático. Por isso é chamado de “ação potencial”.

Essas ordens transmitidas pelos neurônios e nervos geram um pequeno campo magnético. O papel do Neuralink vai ser captar seu desejo por meio desse campo magnético, transformá-lo em sinais digitais e transmiti-lo (por exemplo) a um aparelho que movimente suas pernas. E os deficientes poderão caminhar só com a força do pensamento, como num milagre bíblico.

Musk deixou claro que a prioridade da Neurolink é atuar na cura de deficiências (visuais, sonoras, táteis e motoras). O que implica, claro, riscos inéditos. Se um cérebro puder ser alimentado com impulsos elétricos digitalizados, então ele também poderá ser hackeado. “Nós entendemos que aparelhos médicos precisam ser seguros”, garante o site da Neuralink. “A segurança será construída em cada camada do produto, usando forte criptografia, engenharia defensiva e extensa auditoria de segurança.”

A Neuralink ainda dá seus primeiros passos como empresa. Oferece empregos em sua sede na Califórnia para gente altamente qualificada nos ramos de engenharia, biologia e robótica. Suas duas concorrentes também estão bem no início de todo o processo, lutando para conseguir investimentos num ramo industrial que ainda está no berço.

Uma dessas concorrentes é a Kernel, criada por Bryan Johnson, ex-missionário e ex-empresário do ramo de finanças. Enquanto a Neuralink está bem focada em aplicações ligadas a medicina e saúde, a Kernel se abre para outras áreas de pesquisa — como bem-estar, aprendizado, atenção, emoção, foco, meditação e desenvolvimento de potencial. “Nosso principal objetivo é acelerar e melhorar o conhecimento sobre o cérebro humano”, já declarou Bryan Johnson. “O século 20 foi o século da física. Dividimos o átomo, fomos até a Lua e examinamos as bordas e origens do universo. O século 21 será o século do cérebro, da mente e da inteligência.”

Ao contrário da Neuralink, os procedimentos da Kernel não são invasivos: capacetes com sensores substituem a implantação do eletrodo por cirurgia. Sem hesitação, Johnson afirma que “estamos para entrar na mais significativa revolução na história da raça humana. Uma revolução numa escala jamais vista está chegando. Vai bater na nossa porta em quinze a vinte anos”.

A terceira empresa é a CTRL-Labs. Mais modesta em seus objetivos, a companhia está desenvolvendo uma pulseira que possibilita controlar aparelhos digitais com a mente. A estratégia é começar com produtos de alto consumo, levantar capital suficiente e só então entrar no mercado de medicina. O primeiro campo de atuação da empresa envolve realidade virtual e games. Há um ano, a CTRL-Labs foi comprada (por uma quantia entre US$ 500 milhões e US$ 1 bilhão) pela Facebook. (Facebook com controle da mente? É o combustível perfeito para alimentar futuras teorias da conspiração.)

Thomas Reardon, CEO da CRTL-Labs, aponta para um aspecto fundamental desse novo campo: “O que você pode fazer com seus neurônios não é um problema da ciência, é um problema de sua imaginação”. A frase reúne a grandeza e a miséria dessa nova fase da existência humana. Teremos nosso potencial mental multiplicado e nossas ações serão, literalmente, rápidas como o pensamento. O que faremos com esse novo poder?

Filmes, séries e artigos alarmistas vão inevitavelmente dar um tom negativo a esse avanço. Zumbis com um buraco no crânio estarão a serviço de tecnopsicopatas. Ladrões dominarão a mente de suas vítimas para assaltos a distância. Governos totalitários escravizarão sua população com o uso de implantes cerebrais. “Especialistas” serão procurados para atestar que essa nova tecnologia será mais um perigo terrível para nossos filhos.

Grandes avanços científicos são sempre acompanhados de grandes temores. Alguns são justificáveis. Outros, apenas uma reação assustada ao desconhecido. Problemas acontecerão, claro. Mas focar só os problemas é apagar as luzes de uma era de extrema riqueza da civilização humana.

Estamos chegando a um ponto em que libertaremos nossa mente dos limites de nosso corpo. As possibilidades dessa nova era vão dar, sim, muito mais poder a potenciais criminosos e terroristas. Mas também darão mais poder à pessoa que gostaria de se levantar de sua cadeira de rodas. Assim como a quem queira descobrir a cura de doenças graves, salvar espécies em extinção ou combater criminosos e terroristas.

O problema, como sempre, não é a nova tecnologia em si. É o uso que vamos fazer dela. Quanto mais gente vencer o medo inicial e pensar de forma positiva e construtiva, mais chances teremos de usar essa nova conquista para resolver os grandes problemas do mundo e curtir melhor esse futuro que se abre. “A mente é como um paraquedas”, dizia o músico Frank Zappa. “Só funciona quando está aberta. ”

Texto e imagem reproduzidos do site: otambosi.blogspot.com

O que é publicação digital?


O que é publicação digital?

Você sabe a que se refere o termo “publicação digital”?

Há algum tempo que a internet vem dominando os meios de comunicação. Diante disso, eles se viram obrigados a inovar e fugir do convencional. As estações de rádio possuem websites próprios onde a interação com o ouvinte é possível e jornais e revistas tiveram que criar suas versões digitalizadas para facilitar a leitura para aqueles que costumam se atualizar nas notícias pela internet ou pelo celular e tablet. Essas novas versões de livros, revistas e jornais é o que chamamos de publicação digital.

Pode parecer simples, mas não é. Por se tratar de uma novidade, muitos veículos ainda estão adaptando a esse novo formato, após anos acostumados a folhear revistas no papel. Mas estamos dando um grande passo em inovação, fazendo com que os meios de comunicação se tornem multimídia. Isso quer dizer que há muito mais interação entre os leitores, que podem se atualizar com muito mais facilidade e até mesmo participar das publicações, através de comentários e sugestões.

O meio eletrônico de divulgação de conteúdo têm sido adotado por grandes editoras como Abril e Globo, devido à popularização dos smartphones e tablets. Além da praticidade de poder fazer download das suas revistas, livros e jornais preferidos e armazená-los na memória desses dispositivos para acessá-los quando e onde quiser, a publicação digital também facilita a procura por palavras-chave ou termos dentro do próprio texto, já que é possível utilizar ferramentas de busca dos próprios celulares ou tablets.

Além de todas essas vantagens já citadas, a publicação online também proporciona uma leitura não-linear, isso é, uma leitura que permite pausas e não é cansativa. Um texto pode te levar a outro e trazer informações na forma de áudios, imagens ou palavras, e isso é o que chamamos de hiperlinks. Quer dizer, se trata de uma leitura muito mais leve, interativa e que agrega mais conhecimento, pois reúne os mais diversos dados e noções sobre um mesmo assunto.

Agora que você já sabe um pouco mais sobre publicação digital, é preciso entender que, além de tudo isso que foi citado, é necessário grande planejamento para transformar uma publicação impressa em digital. Precisamos pensar no formato, na interação, na facilidade de leitura e, é claro, nos anúncios...

Texto e imagem reproduzidos do site: dokacomunicacao.com.br

O Dilema das Redes, por Fernando Gabeira


Publicado originalmente no site do GABEIRA, em 21.09.2020

O Dilema das Redes 
Por Fernando Gabeira (do Blog)

Acabo de assistir ao documentário sobre as redes “The Social Dilemma”. É assustador mesmo para mim, que tenho tratado do tema, sobretudo pelo ângulo das fake news e teorias conspiratórias que impulsionam o tecnopopulismo de direita.

Uma das razões para ampliar minha abordagem do tema é contar com depoimentos de insiders, pessoas de dentro do universo tecnológico que trabalharam e ajudaram a construir plataformas como Twitter, Facebook, Instagram e YouTube.

A maior parte da crítica disponível até então era de observadores de fora desse universo. Outra limitação de meu enfoque era observar apenas as consequências negativas das redes sociais no universo político, gerando uma atmosfera de ódio e mentiras.

Ao ver o documentário, fica claro para mim que as consequências políticas foram apenas um subproduto diante da tarefa central: usar a insegurança e a ansiedade das pessoas para torná-las dependentes do uso das redes e, com o acúmulo dos seus dados, impulsionar vendas.

Isso não chega a ser uma descoberta. O interessante é ouvir de alguém que encontrou o Facebook nos seus primórdios e teve como tarefa descobrir uma forma de fazer dinheiro com aquilo.

Quase todos os talentos contratados no início viam nas redes sociais algumas de suas inegáveis qualidades: unir famílias, ampliar o conhecimento coletivo, facilitar a solidariedade.

O caminho para financiar era a publicidade. Ela seria mais eficaz quanto maior o tempo de permanência do usuário, e muito mais eficaz também, na medida em que, conhecendo sua personalidade, às vezes mais profundamente do que ele próprio, fosse possível ampliar seu consumo.

Essa é a matriz que acabou produzindo as aberrações político-sociais que vivemos hoje. A radicalização política é necessária para prender a atenção das pessoas. As fake news são atraentes diante de uma realidade tediosa.

Isolado em sua bolha, o indivíduo tem a sensação de tudo compreender pelas teorias conspiratórias. Se alguém diz que pedófilos se reúnem no porão de uma pizzaria, ele tenta invadi-la armado de um fuzil, apesar de a pizzaria nem ter porão.

Se alguém acredita que a Terra é plana, será alimentado com inúmeras interpretações que fortalecem essa ilusão. Na busca do Google, dependendo da região, o aquecimento global aparece como uma fraude ou uma tese científica.

O problema central é que, ao contrário da TV ou do cinema, a inteligência artificial tende a se modificar num ritmo cada vez mais alucinante. Alguns dos participantes do documentário preveem que o processo deve acentuar polarizações e produzir guerras civis. Mas é evidente que algo pode ser feito para atenuar esses imensos efeitos negativos do avanço tecnológico.

Certamente não é criando comissão da verdade, como queriam alguns parlamentares brasileiros. Apesar de assustador, ou por causa disso, o documentário nos estimula a buscar soluções.

Às vezes invejamos a intimidade das crianças com essas novas linguagens, um mundo fantástico se desenrolando com o simples toque de seus dedinhos. Mas nossa geração intermediária talvez possa contribuir com suas lembranças do mundo real. Outro dia, falando sobre o tema, lembrei-me de que muitos de nós foram influenciados pela filosofia do Pós-Guerra, o existencialismo. Uma de suas frases lapidares, de Jean-Paul Sartre, talvez fosse de utilidade para os jovens: o inferno são os outros.

Assim como é preciso estimular o estudo de ideias conflitantes, talvez compense retirar do armário o antigo conceito de autenticidade, que estimula a pessoa ser ela mesma, independente de likes, dislikes e ofensas grosseiras.

Voltando ao plano político, uma das questões básicas é achar o caminho para limitar o acúmulo de informações sobre as pessoas. Um dos entrevistados chegou a falar de impostos para reduzir o intenso consumo de dados pessoais pelas empresas. Não sei se é por aí.

Alguém no documentário lembrou que essas gigantes tecnológicas e a indústria das drogas são as únicas que chamam seus clientes de usuários. É um pouco exagerado, mas depois de ver “The Social Dilemma”, creio que todo mundo vai se perguntar até que ponto está viciado nas redes sociais e quais os caminhos da libertação.

Artigo publicado no jornal O Globo em 21/09/2020

Texto e imagem reproduzidos do site: gabeira.com.br

sábado, 28 de março de 2020

Há governos que querem desconectar seus cidadãos...

Diego Quijano (Con Fotografia de Getty) 

Publicado originalmente no site do jornal EL PAÍS BRASIL, em 10 de março de 2020

Há governos que querem desconectar seus cidadãos da Internet, e alguns já têm seu botão vermelho. 

A web está deixando de ser global. China, Rússia e Irã, entre outros, usam sua infraestrutura digital para vigiar e censurar seus cidadãos. Bem-vindo à ‘balcanização’ da Internet

Por Marta Peirano 

Na Davos de 1996, o visionário John Perry Barlow já dizia aos “Governos do mundo industrial, cansados gigantes ​​de carne e aço”, que deixassem a Internet em paz. Sua famosa Declaração de Independência do Ciberespaço estabelecia: “O espaço social global que estamos construindo é por natureza independente das tiranias que vocês procuram nos impor. (…) Seus conceitos legais sobre propriedade, expressão, identidade, movimento e contexto não se aplicam a nós. Eles são baseados na matéria”. A Rede queria ser livre, e os protocolos TCP/IP, a cola universal que unia todas as suas peças, haviam sido projetados para que as informações encontrassem sempre o caminho mais curto, mais seguro e mais barato para alcançar seu destino, alheios às fronteiras políticas e geográficas do mundo “real”. Desde então, sua ânsia de liberdade se deparou com diferentes graus de resistência dos Governos, que costuma administrar a expressão de dissidência com apagões seletivos, leis da mordaça e campanhas de propaganda ou desinformação. Uma nova estratégia se configura este ano: a independência. No final das contas, a Internet era sim matéria e começa a se desintegrar.

Apenas dois dias depois de a Internet completar 50 anos, em 29 de outubro, a Rússia declarou sua independência com uma lei de soberania digital. A legislação autoriza seu regulador de telecomunicações local a bloquear conteúdos, serviços ou aplicativos que considere uma ameaça à segurança do Estado, sem ordem prévia, processo ou notificação. Os critérios sobre o que constitui uma ameaça são tão opacos quanto seu plano de execução. E o conteúdo parece ser a Internet como um todo. A lei contempla a necessidade de um botão vermelho para bloquear a Web quando incomodar e um sistema próprio de gestão de domínios para “proteger os cidadãos russos de serem contaminados por conteúdos tóxicos” e a sua infraestrutura de ataques cibernéticos no exterior.

O sistema de gerenciamento de domínio, ou DNS, é o que diz o que cada coisa significa na Internet, o diretório administrativo que conecta o nome de um site (exemplo: brasil.elpais.com) ao endereço IP do servidor em que se hospeda fisicamente o conteúdo ao qual está associado. É um dos pilares fundamentais da rede globalizada e foi criado em 1983 como um sistema hierarquizado, descentralizado e global. Com um sistema próprio administrado por seu Governo, os cidadãos russos não poderão mais usar redes privadas virtuais (VPNs, na sigla em inglês) para acessar conteúdos controlados ou se comunicar com o exterior.

BRICS, o supergrupo

A Rússia não está sozinha no caminho da autodeterminação digital. “Devemos respeitar o direito de cada país de governar seu próprio ciberespaço”, declarou o presidente da República Popular da China, Xi Jinping, durante a Segunda Conferência Mundial da Internet, em Wuzhen, em 2015: "Nenhum país deveria buscar a ciberhegemonia ou interferir em assuntos internos de outros Estados”. A China não possui seu próprio DNS, mas a famosa muralha digital chinesa propiciou um sistema de crédito social baseado na vigilância e punição de seus cidadãos e, também, a expansão de suas três gigantes tecnológicas: Baidu, Alibaba e Tencent. E a do WeChat, um aplicativo que faz tudo (reúne as funções do Facebook, Instagram, Uber, Tinder, YouTube e Skype, entre outros) e serve para pagamentos com o celular e até dar esmolas para os sem-teto. É inegável que o modelo soberanista serve de incentivo para a economia local. A crise do coronavírus, por outro lado, é uma lição sobre suas consequências.

Li Wenliang, o oftalmologista do Hospital Central de Wuhan que primeiro denunciou a irrupção da epidemia, foi silenciado pelas autoridades e detido em 1º de janeiro por “disseminar rumores maliciosos” na Web. Sua morte no mesmo hospital, no dia 6 de fevereiro, mostrou que a densa rede de vigilância chinesa não servia para conter a propagação do vírus, pelo contrário. Naquela manhã, uma hashtag começou a se destacar no Weibo, a versão local do Twitter: “Exigimos liberdade de expressão”. À tarde tinha sido eliminada pelo regime. O coronavírus segue sua expansão letal, mas não haverá outra Tiananmen.

“A China está construindo sua própria Internet focada em seus próprios valores e está exportando essa visão da Internet para outros países”, lamentou Mark Zuckerberg em seu recente discurso de Georgetown. “Há uma década, quase todas as plataformas da Internet eram americanas. Agora, seis das dez primeiras são chinesas”. Em 2018, o cofundador do Google, Eric Schmidt, havia alertado em um evento em San Francisco: “A grande muralha da China nos levará a duas Internets diferentes: uma asiática, dominada pela China, e outra ocidental, dominada pelos EUA". Nos últimos meses, o Conselho de Segurança da Federação Russa também anunciou a criação de uma “infraestrutura de rede independente”, junto com a China, o Brasil, a Índia e a África do Sul, o supergrupo de grandes economias emergentes conhecido como BRICS. Se for levada adiante, essa outra Internet ocuparia 25% da superfície planetária e serviria a mais de 40% da população mundial.

“Na verdade, esse espaço utópico e cosmopolita nunca existiu”, explica por email Evgeny Morozov, ensaísta bielorrusso e autor de The Net Delusion: The Dark Side of Internet Freedom. “As teorias que formaram nossa percepção da Internet --a aldeia global, o ciberespaço sem lei, o internauta como um cidadão desvinculado do Estado nacional-- estão muito longe da realidade”, acrescenta. “Era um pouco como acreditar que o mercado universal, uma vez alcançados todos os cantos do mundo, teria um efeito homogêneo em todos os lugares.” De fato, vários dos países que abriram a década com a explosão de otimismo da primavera árabe a encerram com apagões, repressão e censura. A Internet não é apenas matéria, mas pode acabar sendo como as reservas de petróleo; em princípio, deveria melhorar a qualidade de vida dos cidadãos, mas, quando brota nas democracias mais frágeis, transforma-se em maldição.

O bloco halal

“Observando os dados, não vemos uma incidência maior no número de bloqueios, mas em sua magnitude e gravidade", explica Alp Toker, diretor da Netblocks, uma organização que observa os bloqueios, restrições e ataques cibernéticos em tempo real. A Índia tem o recorde de apagões, com 134 cortes em 2018, e a Caxemira está sem Internet desde agosto de 2019, exceto por uma centena de páginas que o Governo indiano desbloqueou há três semanas. O Paquistão vem logo atrás, seguido pela Síria e a Turquia. Mas a incidência mais notável ocorreu em 15 de novembro, quando o Irã bloqueou o acesso à Internet a 97% de sua população.

O Irã fez isso no momento em que começaram as manifestações em massa por causa do aumento do preço do combustível. Exceto por algumas contas do Governo, foi um blecaute total (Internet, telefone, dados, SMS). Um evento sem precedente. Embora tenham ocorrido milhares de apagões, nunca um país inteiro havia saído da Rede. Enquanto a mídia tenta verificar durante o apagão o número de mortes que ocorreram nos protestos, os engenheiros tentam elucidar como conseguiram retirar da Internet 80 milhões de pessoas de uma vez. O fato é que o Governo trabalha há anos em uma Internet halal, alinhada ao islã: a National Information Network. “O país não tolera uma rede social que tem sua chave nas mãos dos Estados Unidos”, disse o aiatolá Ahmad Khatami há dois anos.

Obviamente, existe um nicho de mercado para uma Internet muçulmana. Para além dos valores religiosos, segundo Katherine Maher, diretora-executiva da Wikimedia Foundation, há mais de 350 milhões de pessoas que falam árabe no planeta, mas seu idioma ocupa menos de 1% da web. Em 2016, a start-up malasiana Salam Web Technologies lançou um navegador restritivo alinhado aos valores islâmicos, chamado SalamWeb, que atende usuários da Malásia e da Indonésia, mas quer expandir-se por todo o mundo islâmico. Inclui seu próprio agregador de notícias, rede social e sistema de mensagens, o SalamChat. “Isso não é necessariamente ruim. Ter a própria infraestrutura pode promover um ecossistema econômico próprio e introduzir alternativas locais às plataformas multinacionais”, diz Toker. E acrescenta: “Mas quando isso é feito às custas da conectividade mundial, é um problema de direitos humanos e liberdade de expressão. E não há ninguém vigiando. Estamos tão focados em nossos debates internos que o ecossistema digital está se decompondo e com ele a possibilidade de debate mundial”.

Uma nova guerra fria

Há aspectos do divórcio que transcendem o colonialismo cultural, a perda de diversidade e a polarização do debate. De acordo com o relatório do Oxford Internet Institute sobre propaganda e desinformação, o Irã é um dos sete países que implementam operações de influência estrangeira, junto com China, Rússia, Índia, Paquistão, Arábia Saudita e Venezuela. Sua relação com a guerrilha digital é intensa e pós-traumática: foi o alvo do primeiro ataque cibernético projetado para destruir a infraestrutura industrial. O Stuxnet foi um vírus insidioso que destruiu mil centrífugas em seu centro de enriquecimento de urânio em 2010 e abriu um mundo de possibilidades aterrorizantes para a guerra cibernética. De acordo com o arquivo de documentos de Snowden, naquele momento o Irã era o país mais vigiado do mundo, tanto pelos EUA quanto por Israel.

O Irã aprendeu a lição: a Rede Global permite causar muitos danos com poucos recursos. Agora, o país “tem a capacidade e a tendência de lançar ataques destrutivos”, declarou recentemente Christopher C. Krebs, diretor de segurança cibernética e infraestrutura do Departamento de Segurança Interna dos EUA. “É preciso ter a consciência de que qualquer ataque poderá ser o definitivo”, acrescentou. Sua divisão lhe atribuiu muitos ataques, incluindo o dos seis principais bancos dos Estados Unidos. O malware iraniano destruiu 35.000 computadores da companhia estatal de petróleo Saudi Aramco em 2012. Foram necessários dezenas de milhões de dólares para reconstruir o sistema. Desde então, especializou-se em atacar infraestrutura industrial --um terapeuta chamaria isso de compulsão de repetição-- entre os vizinhos mais próximos, como sua arqui-inimiga Arábia Saudita.

“A segurança é um espaço multidimensional no qual diferentes objetivos e diferentes atores competem”, explicou David D. Clark, arquiteto-chefe da Internet nos anos 80 e autor do recente e imprescindível Designing an Internet, em uma conferência na sede do Google há pouco mais de um ano. “Para construir uma Internet segura, você deve firmar um compromisso pelo qual todos e cada um dos atores desejem que a sua solução sobreviva”, acrescentou. Mas o que acontece quando esse compromisso desaparece e duas visões antagônicas ocupam o seu lugar?

Proteger-se do outro

“O Irã é um dos atores mais sofisticados", diz por telefone Bruce Schneier, autor, consultor e um dos maiores especialistas em segurança cibernética. “Ataca empresas, ataca bancos, ataca usinas elétricas, ataca indivíduos. Mas não acho que a balcanização seja principalmente um problema de segurança, acho que o principal problema é de controle e propaganda. A Rede global acabou. Isso já é ruim o bastante.” E complicado. Como se gerencia o divórcio quando a infraestrutura de uma das partes ocupa grande parte da outra? Como nos protegemos de uma China que se torna independente da mesma Rede que depende do 5G da Huawei? “Bem, teremos que ver como isso se desdobra”, ironiza Schneier. “Como não há um ditador da Internet capaz de impedir esse tipo de coisa, tudo pode acontecer.”

Entre os especialistas, há nuances. “No momento, o que estão criando são Internet separáveis, e não separadas”, explica Ángel Gómez de Ágreda, coronel da Força Aérea espanhola, ex-chefe de cooperação do Comando Conjunto de Defesa Cibernética e autor do recente Mundo Orwell: Manual de Supervivencia para un Mundo Hiperconectado. “Isso nos prejudicará no crescimento porque vai fraturar os mercados e, do ponto de vista da segurança, é o equivalente ao escudo antimísseis: ‘Eu posso atirar em você, mas você não pode atirar em mim.’ Estamos criando um mundo medieval, de castelos, onde as vulnerabilidades de uns e de outros serão diferentes.” Entre os dois modelos antagônicos da Rede --global e soberano--, um espectro de países parece não ter voz nem voto nessa separação. "Nós estaremos com o padrão americano e isso não significa que seja perfeito." Permaneceremos no bloco de uma Rede dominada por plataformas comerciais, um modelo de negócio baseado na exploração maciça de dados que produziu sua própria família de patologias.

“É fácil atacar a ideia da balcanização da Rede argumentando que os maus querem controlar a Internet. Mas, o que aconteceria se fossem os países democráticos, como aconteceu com o Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR) ou com o direito de ser esquecido?”, argumenta Morozov. “Não estou preocupado com a balcanização da Rede, pois, de qualquer forma, trata-se da desvinculação da esfera econômica e digital controlada pelos Estados Unidos. Os meios de comunicação, por exemplo, possuem regulações diferentes, mesmo dentro da União Europeia --o que é aceitável na Noruega, pode não ser na Itália, e vice-versa. Por isso não acho que devamos nos preocupar com discordâncias na esfera digital só porque nossa concepção original da Internet é um mito de universalismo impossível.”

“A Espanha sozinha não tem margem de manobra”, diz o coronel Gomez de Ágreda, “o que temos, sim, que fazer na Europa é nos perguntar se queremos pertencer a um dos sistemas que estão sendo montados ou ter o nosso sistema separável”. De certa forma, a Europa já faz isso. O RGPD de 2018 separa legalmente os usuários europeus daqueles do restante do mundo. “Podemos criar uma Internet com nossas próprias regras”, conclui Gómez de Ágreda. “Um núcleo de países com os quais compartilhamos uma série de valores.” E esclarece que não se refere estritamente à União Europeia. Isso também começou a se romper.

Texto e imagem reproduzidos do site: brasil.elpais.com