Publicado originalmente no site ALÔ NEWS, em 03/02/2019
Facebook faz 15 anos: um adolescente com problemas de adulto
Rede social tornou-se a maior do mundo, com mais de dois
bilhões de usuários, mas sucesso não a deixa longe das polêmicas
Em 4 de fevereiro de 2004, Mark Zuckerberg disponibilizou
online um "embrião" do Facebook. Atualmente - escreve a agência
France Presse (AFP) - a empresa está onipresente no dia a dia de um quarto da
humanidade e vale 500 bilhões de dólares em bolsa, tendo encerrado 2018 com um
lucro recorde de 22,112 bilhões de dólares, mais 39% do que no ano anterior.
Já o seu criador e líder tem, aos 34 anos, uma fortuna
avaliada em 62 bilhões de dólares.
Mas esta incrível "história de sucesso" foi, há
perto de dois anos, comprometida por um fluxo quase ininterrupto de escândalos
e de revelações acerca dos métodos utilizados pela rede social, cujas receitas
provêm da publicidade.
A lista de críticas é longa: utilizadores inquietos com a
desinformação que circula na plataforma, defensores da vida privada que se
insurgem contra a recolha cada vez mais massiva de dados pessoais para deles se
retirar proveito financeiro e, mesmo, ativistas dos direitos humanos.
"Trata-se de uma empresa muito poderosa, que criou um
produto viciante do qual muitas pessoas estão dependentes", sublinha o
autor e analista Josh Bernoff, salientando que "isto implica uma enorme
responsabilidade".
Já a analista da eMarketer Debra Aho Williamson considera
que, "depois dos problemas de 2018, [o Facebook] deixou de ser elogiado
pelas suas inovações": "Os seus menores feitos e gestos são
escrutinados e criticados", nota, sustentando que, "aos 15 anos, o
Facebook tem de enfrentar a maturidade, já não é um principiante".
Atualmente, o Facebook tornou-se num império que detém
algumas das aplicações gratuitas mais populares do mundo: o Instagram, que
revolucionou a fotografia e o relacionamento com a imagem, ou aplicações de
mensagens como o Messenger e o WhatsApp.
Cada uma destas aplicações possui mais de um bilhão de
utilizadores e permite captar um público jovem, que tem se afastado cada vez
mais do Facebook, por muitos já encarado como uma rede "para os
pais".
Nos últimos meses, Mark Zuckerberg e Sheryl Sandberg, a
poderosa número dois do grupo e a responsável pelo seu modelo econômico ultra
eficaz, lançaram-se numa verdadeira campanha de "mea culpa",
prometendo "fazer melhor e mais rápido" no combate a questões como a
desinformação ou os apelos ao ódio.
A empresa tem investido milhões e milhões de dólares para
sanear a plataforma, quer com sistemas automáticos, quer também recorrendo a
contratações de novos quadros, sendo atualmente já 30.000 os funcionários
dedicados a questões de segurança e confidencialidade.
Atacado de forma pessoal, e às vezes mesmo virulenta, Mark
Zuckerberg tem uma estratégia de defesa bem alinhada: o Facebook serve para
ajudar as pessoas a reaproximarem-se, pelo que podemos confiar nele.
E, apesar das críticas à sua gestão de dados pessoais, está
fora de questão alterar o modelo: o serviço é gratuito graças à publicidade e
os seus algoritmos orientam-se por entre o emaranhado de dados pessoais que são
recolhidos e cruzados.
E isto funciona: o número de utilizadores continua a
aumentar e os anunciantes continuam lá.
Josh Bernoff está, contudo, mais cético: "O capitalismo
ensinou-nos a redobrar a vigilância quando as empresas que têm imenso poder nos
dizem que fazem o que é melhor para nós", sustenta.
Com o objetivo de demonstrar a sua boa vontade, Mark
Zuckerberg decidiu este ano participar em debates públicos para refletir sobre
o futuro da Internet e sobre como melhor servir a sociedade.
"Vou envolver-me publicamente, além do que a minha zona
de conforto me tem permitido até agora, e vou participar nestes debates sobre o
futuro, sobre os compromissos que devemos assumir e sobre a direção que
queremos tomar", anunciou no início deste ano, em resposta às principais
questões que têm vindo a ser apontadas pelos críticos da rede social.
Com a história repleta de empresas que pareciam
incontornáveis até desaparecerem, o perigo para o Facebook pode vir de uma
alteração na forma como as pessoas utilizam e interagem com os seus
dispositivos eletrônicos.
Josh Bernoff questiona, por exemplo, se o Facebook estará
preparado para a ascensão fulgurante de dispositivos inteligentes como os
disponibilizados pela Google ou mesmo pela Amazon.
"O futuro vai pertencer cada vez mais à voz e às
empresas e indivíduos que interagem através da inteligência artificial",
sublinha o analista, acrescentando: "Não é certo que haja espaço para o
Facebook à medida que as pessoas alteram a sua maneira de interagir com o resto
do mundo".
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